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Devaneios: Meu Primeiro Encontro Com Mestre Achyuta

Mesmo me referindo várias vezes ao mestre Achyuta em outros artigos, acho que ainda não tive a oportunidade de contar sobre o meu primeiro encontro com o grande ancião. Aquele foi realmente um dia incomum. Um dia negro para a minha pessoa. Um dia negro para qualquer um que já tenha perdido seus pais e compreenda a dor profunda que crava e aprisiona o coração. Talvez o senhor esteja rindo das minhas palavras, mas não desejo tamanha dor nem mesmo para o meu pior inimigo…. Isso não era verdade. Mais uma vez a máscara dessa razão tenta se manter firme. O mais leve lembrar sufocava meus pulmões. Os olhos cinzas naquela pele manchada de vermelho ainda hoje encaram os meus sonhos. Esse ódio que me congelava o ar aos poucos se tornava medo. Não me lembro de nada antes daquela noite. Minhas pernas como pedra, meus olhos como cachoeiras e minha vida como a sombra de um último suspiro. Vamos falar a verdade aqui: nenhuma palavra conseguiria descrever aquilo. Nenhum “PORRA” gritado bem alto calaria aquela dor. Nenhuma porta destruída com um chute me libertaria daquele ódio. Nenhuma fuga me protegeria daqueles três demônios que nasciam dentro de mim.

Corri mais do que pude para lugar algum. É verdade que nunca havia corrido tanto. Gastei todo o meu dinheiro numa moto horrorosa. Não tinha carteira de motorista e quanto mais caia no chão mais sentia prazer naquele sangue que já me escorria o rosto. Viajei por essas terras escaldantes. Talvez aquelas viagens eram muito mais dentro de mim do que fora, procurando com todas as minhas forças a porta que me livraria daquele inferno. Mas o que encontrei foi justamente o contrário: um Bem-Vindo para os meus piores pesadelos! Talvez minha melhor saída tenha sido aquelas bebidas! As várias horas intoxicado com o calor do descontrole. Entrei em muitas brigas. As dores do corpo calavam as dores da alma. Uma dessas brigas, a melhor delas [devo confessar], foi a do “Boquinha do Diabo”, um bar 1/2 estrela em algum lugar perto de Catalão. Aquele filho de uma puta escorado na parede chamuscada. “Suas  lágrimas condizem com a fraqueza da sua alma.”. Confesso que não contive a alegria de meu sorriso ao ouvir tais palavras. O calor do álcool confundiu-se com o calor do ódio que escorria por cada veia do meu corpo. Talvez aquele soco fosse pouco. Talvez o segundo também fosse. Mesmo ouvindo o clamor da corja de abutres que assistiam o espetáculo, a luta maior era silenciosa dentro de mim. Os socos recebidos não me causavam maiores dores do que os socos que aplicava. O rosto daquele porcaria aos poucos se tornou familiar. Por trás daquela máscara de sangue minha própria face era visível.  Nada importava mais. Nunca mais veria os cabelos negros de minha mãe. Nunca mais teria as conversas sábias de meu pai. Aquela escuridão condizia. Meus olhos se fechavam assim como o tempo através daquelas nuvens. Um súbito vazio tomou conta de meus pensamentos.

Acordei sobre um macio carpete, numa aconchegante casa de madeira com uma lareira aos meus pés. Faixas de gaze embebidas em alguma loção mal cheirosa cobriam-me as feridas por todo corpo. “O senhor teve uma longa noite, não é mesmo?” Aquela aparência calma, seu sorriso de preocupação, a barba curta e cabelo longo grisalhos, o manto marrom que me lembrava um cobertor antigo de meu pai, tudo aquilo me ajudava a beber um horrível chá amarelado. “Enquanto estiver aqui, nenhum mal poderá te tocar! Sou Shardul Achyuta, muito prazer em conhece-lo.” Há muito não sentia a proteção de um lar, o calor e a gentileza humana. Ainda estava meio desmaiado, mas distinguia algumas palavras no ar. “Precisamos aprender a controlá-los.”

Talvez algumas semanas tenham se passado quando abri os olhos vivos diretos no clarão de sol que irrompia da janela adiante. Tamanho brilho que fracassa em cegar-me a escuridão. Confesso que ainda estava meio fraco, mas pude reunir alguma força para colocar-me de pé. Aquele chão frio por debaixo e o teto quente logo acima. Adiante havia uma cadeira de balanço que trazia viva uma recordação de meu avô e seus longos cochilos após o almoço. A mesa rústica de jantar já carcomida pelo tempo acompanhava de perto o balançar daquela cadeira. Tudo parecia tão simples, mas havia uma força oculta naquilo tudo. A figura do homem nos degraus da escada lá fora era mais intensa que o brilho da manhã. A paz e tranqüilidade com que empunhava o velho cachimbo de madeira corroída e com que olhava cuidadosamente cada movimento de folha seca. As mãos enrugadas convidam-me a sentar. “Bom dia! Ouçamos um pouco o que o vento tem a nos dizer!” As palavras soavam-me sem sentido, embora fosse difícil contrariar um pedido daquele senhor. O que o vento teria a me dizer? Não ouvia nada! Talvez o vento tenha desistido de mim, assim como eu mesmo. Aquela paz de certa forma me constrangia. O vento trazia adiante o rosto sorridente de minha mãe, as gargalhadas poderosas de meu pai e os olhos onipresentes daquele demônio. As gotas vermelhas no céu de minha manhã escurecem qualquer vestígio de claridade. “Deixe-me sair” – o vento assim me disse. O balé das folhas naquele quintal agora era turbilhão de manada em fúria. A fumaça do cachimbo daquele velho enlouquecia-me. “Deixe-me sair.”

Acordo num pulo ofegante. Tudo não passara de um sonho. O movimento suave das mão enrugadas acalmando meus punhos, a dança invisível do velho senhor dando vida a cada uma daquelas esquivas, uma dor profunda que mutilava meu corpo, tudo ilusão de minha mente perturbada. O chá detestável esfriando ao meu lado e o sr. Achyuta em sua cadeira de balanço agora era tudo que eu reconhecia. O olhar calmo do velho cobria-me, tornando tudo aquilo mais suportável. O sorriso estampado no rosto. “… controlá-los.” Tudo não passara de um sonho.

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  1. janeiro 29, 2010 às 10:14 pm

    Alguém entendeu alguma coisa aí??? heheh

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